- Maio 17, 2024
O que é feito de si? JORGE SOUSA
Ainda hoje podia ser árbitro, mas saiu pelo seu pé, de forma prematura, em 2020, com 44 anos, vencido por problemas físicos, embora continue a consumir arbitragem diariamente agora como instrutor a Norte.
Jorge Sousa, de 48 anos, contou ao O PAREDENSE que tinha realizado a melhor época das 20 passadas na primeira categoria e viu nisso um sinal, que transformaria em ponto final, por as reiteradas lesões no calcanhar de Aquiles, sobretudo, lhe terem ‘roubado’ a motivação.
“Saí sem ter nada preparado, não sabia o que ia ser, mas sabia o que não queria. E não queria ser videoárbitro (VAR), por estar demasiado vinculado a um campo, com toda a sua envolvência, e ter de passar, de repente, para o silêncio de uma sala”, recordou. A solução saiu de uma conversa com o presidente do Conselho de Arbitragem e passou por colocar a sua experiência e conhecimentos ao serviço dos árbitros de categoria 1 e 2 (campeonatos profissionais), de quem é o instrutor a Norte.
“Faz-se o visionamento e análise dos jogos do fim-de-semana, depois uma análise individual e, posteriormente, coletiva, num encontro com os árbitros”, sublinhou, explicando que “o objetivo é fazer com que aprendam mais depressa”.
O papel do árbitro hoje vai muito além do treino, das faltas ou da amostragem de cartões, exigindo “liderança, gestão de pessoas e momentos, comunicação ou até imagem”, entre outras competências. “Teria sido melhor árbitro com este apoio e proximidade por parte dos árbitros mais experientes”, reconheceu.
O lordelense não tem dúvidas em afirmar que, “neste momento, trabalha-se muito bem a arbitragem”, insistindo na ideia de que este trabalho de proximidade com o quadro de 36 árbitros, na sua maioria jovens, possibilita “um crescimento mais sustentado”, tornando-os “mais completos”.
Pessoalmente, diz não sentir saudades, guardando apenas “um sentimento de gratidão e felicidade”, por ter “desfrutado ao máximo”. “Há 30 anos, demorava 1:30 horas a chegar ao Porto e o meu sonho era só ser árbitro dos nacionais. Mas fiz mais – fui seis vezes considerado o melhor árbitro e apitei na Liga dos Campeões, que é especial”, observou.
Falou com carinho da final da Taça de Portugal, “um dia diferente”, e deu conta da “exigência e lucidez emocional”dos dérbis ou clássicos, mas lamenta, ainda hoje, a avaliação de foras de jogo da sua equipa e validados por si num Ajax – Real Madrid, para a Liga dos Campeões, que o VAR hoje reverteria.
“Em 30 anos, alguns dos meus melhores amigos vieram da arbitragem, sendo a sua grande maioria colegas”, realçou, consciente de que as mentalidades não vão mudar e que a maioria das críticas vão continuar “inquinadas de desonestidade intelectual”.
Para Jorge Sousa, “as pessoas não têm noção do quanto os erros mexem com os árbitros, e no próprio dia, de nada valendo se acertaram as restantes 100, 200 ou mais decisões”. E, também por isso, é frontalmente contra a possibilidade de os árbitros falarem.