• Março 7, 2024

Maria do Carmo trabalha como trolha

Maria do Carmo trabalha como trolha

A paredense está nesta profissão há sete anos e recomenda.

Será que existem, efetivamente, profissões mais adequadas para homens do que para mulheres? Será que, como os homens são bem acolhidos nos ambientes de trabalho tradicionalmente femininos, as mulheres também o são, desta feita, nas profissões habitualmente associadas aos homens?

A verdade é que existem mulheres que exercem profissões com maioria masculina. Ora vejamos, Maria do Carmo Moreira já foi costureira, doméstica, peixeira e agora é trolha, sim, leu bem, trolha.

Convido-o a tentar enumerar quantas vezes foi confrontado no seu quotidiano com uma situação do género. Uma coisa é certa, a sobrosense, de 51 anos de idade, parece não se incomodar com nada disso, já que, acima de tudo, gosta imenso da profissão que abraçou há sete anos, quando decidiu ajudar o marido.

“Fazemos de tudo um pouco, desde restauro de casas, montar, lixar e pintar pladur, massas para os muros, entre outras coisas”, elencou, dizendo que o que mais aprecia é ver o antes e o depois das obras. “Chegar a uma casa e vê-la toda destruída, depois, no final, ver toda restaurada, toda bonita, sabendo que fiz parte do processo, dá-me uma enorme satisfação”, destacou, dizendo que se imagina neste trabalho até quando puder.

Na verdade, a única diferença que nota, quando comparada com um homem, é ao nível da força. “Os homens têm mais do que as mulheres, vamos admitir, mas no resto faz-se tudo que um homem faz”, garantiu.

Ainda assim, há pormenores que lhe saltam mais facilmente à vista, talvez por ser mulher. “Sim, sou mais perfeccionista e chamo o meu marido muitas vezes à atenção para que faça de outra forma”, explicou. No fim das contas, “dá-me razão e diz-me que está bem da maneira que lhe digo, porque sabe que gosto das coisas direitinhas”.

Vá, o marido também é muito minucioso em tudo o que faz, contou. Aliás, até foi bastante exigente com a ‘mulher trolha’, quando lhe estava a ensinar o ofício. “Sim, podemos dizer que demorei a aprender, mas o mais importante é que cheguei lá”, defendeu Maria do Carmo.

Abordando o início da aventura no mundo da construção civil, avançou: “Eu era peixeira num supermercado em Paredes e até gostava daquilo que fazia, mas como o meu marido me estava sempre a “chatear” a cabeça para eu ir para a beira dele, pois precisava de ajuda, porque agora há pouca mão de obra, resolvi experimentar”, argumentou.

Há quem defenda que os casais não devem trabalhar juntos, sob o pretexto de as coisas não correrem bem, por isso Maria do Carmo foi questionada. “Não afetou em nada a relação, porque na hora do trabalho falamos e trocamos ideias e em casa somos marido e mulher, algo totalmente diferente. Temos que saber separar as águas, por isso nunca houve problemas em relação a isso”, esclareceu.

Trabalhar nas obras não é mesmo para qualquer pessoa, pelo que os próprios clientes a abordam nesse sentido. “São mais as mulheres que estranham, outras, contudo, dão-me os parabéns”, referiu. “Recordo-me de pelo menos três que o fizeram, dizendo: ‘Sim senhora, nunca vi uma mulher a trabalhar assim, você faz tanto como o seu marido’.” São comentários que deixam a paredense contente. Aliás, prova disso foi o sorriso com que abordou o tema, lamentando, por outro lado, as reações dos que ficam retraídos pelo facto de “trabalhar como um homem”.

A reportagem completa na edição de 7 de março de 2024