- Novembro 14, 2024
“É uma doença, não é uma sentença”
A idade mínima para o rastreio do cancro da mama vai baixar para os 45 anos, garantiu a secretária de Estado da Saúde, que espera apenas a publicação da norma da Direcção-Geral de Saúde (DGS) para a medida avançar. A Liga Portuguesa Contra o Cancro considera a decisão do Governo um “passo em frente na luta contra o cancro”. Alda Leal, convidada do Jornal O Paredense a partilhar a sua experiência na ‘Luta pela Vida’, ficou a saber na urgência que padecia de um cancro da mama.
Texto | António Orlando
Uma dor de cabeça persistente e um mal-estar no peito (na mama do lado esquerdo), durante 10 dias que “nem com Ibuprofeno passava”, levou Alda Leal ao serviço de urgências em Leiria, cidade onde trabalhava esta paredense. Dentro do azar, que mais tarde se iria confirmar, Alda Leal diz ter tido “sorte” na urgência “por ter apanhado um médico que se preocupou” em tentar perceber aquilo que tinha. “Fez uma palpação e achou algo estranho” e, a partir daí, “na mesma urgência, viu lá um médico especialista em Oncologia” e expôs o caso da Alda.
Por indicação do especialista, a paredense fez uma “Biópsia PET- CT”, um exame de diagnóstico por imagem capaz de detectar tumores em todos os lugares do corpo. “A ideia era perceber que tipo de cancro é que padecia”. Quando surgiu o resultado, o médico que atendera Alda na urgência, a medo, comunicou-lhe o resultado. “Notei que lhe custou dar a conhecer o resultado. Não sei, se estava com medo do tipo de reação que eu poderia ter. Reagi bem na altura, ou melhor, não sei o que pensei, mas é uma coisa assim fora do… não sei bem explicar…” Ou seja, um turbilhão de sentimentos, de emoções, difíceis de explicar mas fáceis de entender.
A descoberta da doença, sempre aterradora, terá sido “pior para a família”, até porque Alda “já sabia que não estava bem”. Quando recebeu o resultado dos exames, “estava confirmado algo que já sentia. Aceitei de imediato, caso contrário não levaria a coisa tão fácil como tenho levado até à data. A parte psicológica conta muito. O emocional, eu acho, é o principal para isto”, discorre. O maior problema foi ter de cortar “o enorme cabelo, com caracois”, característica que Alda sempre adorou. Ainda comprou uma peruca, “também os caracois”, para ficar “igual ao que era”, mas ao ver-se ao espelho de cabelo cortado, Alda gostou do que viu. Pôs de parte o uso de cabeleira ou de lenço. A ideia foi “aceitar” a realidade.
Mãe de duas filhas, ambas na casa dos vinte anos, Alda assume que padece de um dos cancros mais agressivos, “um carcinoma localmente avançado”. Já foi operada duas vezes.
De baixa clínica, desde julho do ano passado, Alda Leal considera importante o apoio da família, mas “na conta certa”. Na fase da quimioterapia, Alda nunca quis ninguém muito perto, porque “é muito difícil o tratamento” e quem está ao lado “sofre mais um bocadinho e é levado a ter pena”, sentimento que ninguém gosta de ver refletido. “É uma doença grave, certo, mas é uma doença que a gente acredita que passará, não é? Por isso é que nós fazemos tratamentos muito agressivos para isto terminar”, desabafa.
Apesar das dificuldades, Alda considera-se uma pessoa positiva. “Sempre disse que vou morrer velhinha, não vou com o cancro”.
A doença permitiu-lhe um “crescimento psicológico muito grande”. O relacionamento com as pessoas “manteve-se igual” ao que era antes . O único isolamento foi em casa, “nos tais dias de tratamento”. No resto, saía com as amigas para tomar café, conversar. Andar sem cabelo “é uma surpresa para quem nos vê”, porque, explica, “a sociedade continua a olhar de soslaio e é muito egoísta”. No comboio entrava com o carapuço e depois tirava-o e nesse momento sentia o olhar de afastamento das pessoas, que são um bocadinho más. Por exemplo, viam que estavam perante alguém doente mas nem assim se mostram disponíveis em ceder o lugar sentado. Há muito egoísmo”…
Um Conselho de Alda a Quem Se Depara com o Cancro
“Inteligência emocional é muito importante. O equilíbrio emocional é fundamental. Aquela pessoa que se vitimiza, não dá. É para esquecer porque as coisas vão ser muito, muito, mais difíceis. Mas não somos todos iguais. Em todo caso, acho que estamos muito atrasadas em olhar de frente para a doença. É uma doença, não é uma sentença.”