- Setembro 8, 2023
Coma tremoços sem remorsos
Maria José Durães e Sofia Sousa explicam… Saiba como são preparados e conheça por que motivo são os paredenses tratados por “tremoceiros”.
Muitas vezes tratado como o “marisco dos pobres”, o tremoço pode ser considerado tudo menos pobre, pelas suas características alimentares e benefícios para a saúde, sendo um dos petiscos mais apreciados no verão, e não só, pelos portugueses.
“Traga-me uma cerveja e um pires de tremoços, se faz favor”, quem nunca ouviu esta frase? Vá, se ainda não teve essa oportunidade, nem precisa de ir muito longe, basta ir até à esplanada mais próxima.
Se o caro leitor for paredense, a palavra “tremoceiro” com certeza lhe dirá muito, já que é a designação pela qual são conhecidos os habitantes do concelho.
Por isso, não estranhe, se ouvir um dia destes alguém dizer: “Sou paredense, sou tremoceiro”.
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Em finais de julho. até meio de agosto, foram 19 os dias destinados a esta leguminosa, no Parque José Guilherme, em Paredes. Houve “Tremoço & Companhia” e muita festa.
Neste evento, claro está, encontramos duas tremoceiras, Sofia Sousa e Maria José Durães, que têm, assim, dado continuidade à tradição, que tem visto os dias contados.
“Antigamente, éramos mais de 20 vendedoras, ali por aquela estrada fora, como quem ia para a feira. Éramos todas em fila, cada uma com os seus clientes, mas as pessoas vão morrendo…”, disse Sofia Sousa, uma afamada tremoceira.
Residente na localidade de Mouriz, Sofia Sousa, tem 64 anos e há mais de 40 que anda no “mundo dos tremoços”.
“A minha mãe pegava noutro cesto, um mais pequeno, e andava pela rua, já eu ficava à beira do cesto grande”, destacou, recordando os tempos antigos.
“Ó menina, venha aos tremocinhos da minha terra, venha à tradição”, é o pregão mais usado por esta paredense, que se imagina a fazer isto até ao fim dos seus dias.
“Tem que ser, temos que manter a tradição da nossa terra”, afirmou, dizendo que conserva fielmente e ainda usa o cesto, o pano e as sacas que são do tempo da sua mãe.
Mas, engane-se quem pensa que Sofia Sousa só percebe da poda acerca dos tremoços, pois, também cultiva legumes, que comercializa, bem como castanhas assadas.
“Muita gente não sabe de onde vem o tremoço”, afirmou. Ora, nesse sentido, será importante mencionar que o tremoço é a semente contida na vagem de uma planta chamada tremoceiro.
“Agora é a altura de os colher”, lembrou, dizendo que são plantados em março. “Há os que têm flor amarela, que são os bravios, depois há os comestíveis, cuja flor é azul”, referiu, revelando um segredo de preparação. “Se deitar água fria, ficam amarelinhos!”, partilhou.
Esta tremoceira, que se orgulha de vender tremoços naturais e de boa qualidade, é o rosto de uma profissão geracional, já que a avó, bem como a mãe, também faziam disto a sua vida.
A reportagem completa na edição de 7 de setembro de 2023