• Fevereiro 24, 2023

Um toque de gerações

Um toque de gerações

José Albano é sacristão e sineiro, seguindo os passos do pai e do padrinho.

Há tradições que se estão a perder no tempo e já só restam as recordações dos que, saudosos,­­­ revivem as maravilhas do outrora. É o caso da profissão de sineiro. Poucos são os que, nos dias de hoje, sabem como praticar a arte.

As técnicas e práticas estão em vias de desaparecimento, devido às alterações sociais. Com a mecanização dos sinos, com os relógios modernos das igrejas, o toque manual tem perdido expressão, permanecendo na memória dos mais idosos.

Longe vão os tempos em que o sino era o regulador da comunidade, que tanto anunciava alegrias, quando repicava, como más notícias, com os toques a rebate. Isto para dizer que, o sino podia ser tocado de forma estática ou em movimento, consoante os gestos do sineiro e tipo de execução pretendida. As badaladas têm os seus significados, e já são poucos os que estão familiarizados com os mesmos.

Noutros tempos, era certinho e direitinho que o sino da igreja tocasse de manhã, ao meio-dia e à noite, ora, pelas 06h00, 12h00 e 18h00. Para os cristãos, a Hora do Angelus era conhecida pelo toque das Ave Marias ou Toque das Trindades. Altura em que deveriam parar as suas atividades por um momento, para orar e praticar a gratidão.

Atualmente, subir à torre sineira de uma igreja e ver os sinos com elementos decorativos, é, com certeza, algo a que poucos dariam significado. Contudo, se o vosso ‘guia turístico’ fosse o sacristão e sineiro José Albano Ferreira, iriam ficar imbuídos no espírito, tal é a paixão com que fala dos quatro sinos da Igreja de Duas Igrejas, Paredes, um deles oferecido pelo tio à comunidade, em 1959.

Tem 65 anos de idade e desde os quinze que percebe da arte de tocar o sino. Quem lhe transmitiu os conhecimentos foram o pai e os irmãos mais velhos. Não sabe quem ensinou ao pai, que foi quem lhe passou esta herança, mas tem pena de não poder compartilhar a profissão com uma nova geração da família Ferreira. Não esquecendo que, o padrinho de José Albano também ele era sacristão e tocava o sino, na vizinha freguesia de Vilela.

José Albano pode ter apenas cerca de metro e meio de altura mas “fazia isto com uma pinta do caraças”, partilhou genuinamente, visivelmente satisfeito por falar de uma das suas paixões. Para se tocar sino é preciso ter-se “genica” e o paredense parecia tê-la em sobra, uma vez que tocava os quatro sinos ao mesmo tempo, num pequeno espaço de uma torre.

A reportagem completa na edição de 23 de fevereiro de 2023