• Julho 23, 2020

Relatório final sobre queda de helicóptero que vitimou Noel Ferreira aponta para embate com cabos de alta tensão

Relatório final sobre queda de helicóptero que vitimou Noel Ferreira aponta para embate com cabos de alta tensão

A colisão com os cabos de alta tensão esteve na origem do acidente do helicóptero que combatia um incêndio rural em Sobrado, Valongo, e que vitimou o piloto-comandante da Força Aérea e comandante dos bombeiros voluntários de Cete, Noel Ferreira, de 36 anos.

O relatório final da investigação publicado esta terça-feira, 14 de julho, pelo Gabinete dePrevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) aponta como causa do acidente “O embate do balde e rotor de cauda nos cabos de alta tensão ao voar a baixa altitude durante a operação de combate a um incêndio rural”.

No documento é feita também uma descrição do acidente que aconteceu a 5 de setembro de 2019, quando o helicóptero Eurocopter AS350 B2 ao serviço da AFOCELCA, foi chamado a iniciar o combate a um incêndio florestal, na localidade do Sobrado, no município de Valongo.

O piloto Noel Ferreira levantou voo às 15h10 de uma base privada de Valongo, transportando uma equipa de cinco bombeiros e o equipamento de combate a incêndios. Depois de largar a equipa de intervenção, e de lhe ter sido posicionado o balde, o piloto recolheu água para a primeira descarga no incêndio e repetiu o ciclo em menos de cinco minutos.

Na segunda aproximação ao local do incêndio a aeronave e o balde suspenso colidiram com uma segunda linha de alta tensão, composta por oito condutores com tensão de 220 kV, estava posicionada a uma cota inferior e a cerca de 45 metros de distância horizontal da primeira.

“Já sem rotor de cauda e sem estabilizador vertical, a aeronave inicia uma rotação no sentido anti-horário por efeito do torque aplicada ao rotor principal. A perda de controlo da aeronave foi inevitável e consequente queda em rotação, percorrendo uma distância total de 84 metros até se imobilizar sobre o seu lado esquerdo, seis segundos após o impacto com os cabos. Após o embate com o solo, de imediato deflagrou um incêndio intenso que consumiu a aeronave na totalidade. Neste processo, o piloto e único ocupante da aeronave, foi ferido fatalmente”, refere o GPIAAF.

O documento refere que o voo foi realizado de acordo com os procedimentos e a aeronave cumpria com os requisitos legais de certificação aplicáveis.

Para o acidente contribuíram ainda a localização e progressão no terreno do incêndio florestal em terreno montanhoso, junto e por debaixo de linhas de alta tensão que cruzavam o vale; – a trajetória de descarga eleita pelo piloto com posição relativa praticamente perpendicular às linhas de energia; – a posição relativa e disposição dos cabos nos respetivos suportes em configuração vertical à direita do piloto e horizontal à sua esquerda; o foco do piloto em completar a missão de combate ao incêndio, relativizando o risco de colisão iminente ao voar perto de linhas de alta tensão em terreno de orografia complexa.

Segundo o relatório, o piloto registava 180 horas de experiência de tempo total de voo no modelo AS350-B2, maioritariamente em operações de combate a incêndios, em que participava desde 2018.

O GPIAAF relata ainda que Noel Ferreira não usava capacete de proteção no momento do acidente e o seu corpo foi encontrado a cinco metros à direita do assento do cockpit, “situação que não pode ter resultado da queda nem da explosão, evidenciando assim movimentação autónoma do mesmo após a queda”.