• Julho 6, 2021

População não quer unidade de bio-resíduos em Baltar. Presidente da câmara voltou a garantir que a unidade não terá impacto negativo

População não quer unidade de bio-resíduos em Baltar. Presidente da câmara voltou a garantir que a unidade não terá impacto negativo

A população de Baltar voltou a mostrar-se contra a instalação de uma unidade industrial de tratamento de resíduos na zona industrial de Parada/Baltar. Na sessão de esclarecimentos realizada ontem na Escola Básica de Baltar ouviram-se poucas intervenções favoráveis ao projeto.

Apesar das explicações do presidente da câmara de Paredes, Alexandre Almeida, e do engenheiro Daniel Lamas, da Ambisousa, empresa intermunicipal que está responsável pelo projeto, muitos populares voltaram a questionar a localização da unidade e levantaram duvidas sobre o impacto que a mesma poderá ter no território. Houve ainda acusações de aproveitamento político.

O presidente da câmara voltou a garantir que o investimento de 18 milhões de euros, que vai tratar mais de 25 mil toneladas de resíduos dos seis concelhos do Vale do Sousa, não terá qualquer impacto ambiental nem causará maus cheiros no local e vai permitir criar 60 novos postos de trabalho.

Alexandre Almeida frisou ainda que o projeto só avança se o estudo de impacto ambiental solicitado à Ambisousa comprove que não existem consequências negativas para o ambiente e propôs a criação de uma comissão de acompanhamento para que os membros da Assembleia de Freguesia de Baltar e a população possam saber mais sobre o projeto.

Na sessão de esclarecimento estiveram presentes cerca de 150 pessoas. Hoje às 21h30 haverá nova sessão uma vez que nem todos conseguiram entrar no pavilhão devido às limitações impostas pela Direção-geral da Saúde (DGS).

Não está previsto qualquer tipo de aterro em Parada/Baltar”

Aos populares que se juntaram na Escola Básica de Baltar, o presidente da câmara de Paredes começou por explicar o projeto.

A unidade industrial que será construída pela Ambisousa na zona industrial de Parada/Baltar, num investimento de cerca de 18 milhões de euros, vai tratar bio-resíduos (restos de comida e verdes) e transformá-los em gás natural. Terá capacidade para tratar 25 mil toneladas de resíduos por ano e produzir 1,2 milhões de metros cúbicos de biometano e 8.200 toneladas de composto por ano.

O autarca lembrou ainda que a partir de 2024 será obrigatório reciclar os bio-resíduos e que além dos ecopontos que já existem serão criados outros de cor castanha para as pessoas separarem estes resíduos.

“Não está previsto qualquer aterro em Parada/Baltar. Nesta zona não irá ficar uma grama de lixo. O que vai haver é uma unidade industrial como muitas outras que vai valorizar os bio-resíduos e transformá-los em biogás e num composto. Todo esse sistema é feito em circuito fechado, não havendo qualquer tipo de abertura para o exterior”, garantiu o autarca, acrescentando que já existem unidades como esta, por exemplo a Lipor que produz eletricidade a partir da valorização de bio-resíduos e sem causar mau cheiro no local.

“Não tenho dúvidas que esta unidade não vai trazer problemas para Baltar. Apesar disso exigi à Ambisousa que fizesse um estudo de impacto ambiental. Se houver alguma coisa de prejudicial ou se a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ou a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional Norte levantarem alguma reserva em relação à instalação da unidade, garanto que serei o primeiro a não querer avançar com o projeto”, frisou.

Sobre a localização do projeto, Alexandre Almeida voltou a dizer que a zona industrial de Parada/Baltar foi escolhida por ser um local central no contexto da Ambisousa, perto da saída da autoestrada e com acesso à rede de gás natural.

Daniel Lamas, técnico ambiental da Ambisousa, frisou que tem visto muitas inverdades sobre este processo nas redes sociais e que esta unidade nada tem a ver com aterros. Explicou ainda que a partir de 2024 os municípios serão obrigados a cumprir as diretivas nacionais e europeias sobre a reciclagem de bio-resíduos sob pena de serem penalizados com o aumento dos custos.

“Só se consegue não encaminhar estes resíduos para aterro com este tipo de unidades. Só com novas abordagens é que podemos mudar as coisas”, explicou, assumindo que 40% dos resíduos produzidos em casa são bio-resíduos.

Daniel Lamas garantiu que a unidade prevê que toda a operação seja “controlada e em edifício fechado” e que “não há qualquer problema de libertação de gases e de resíduos cá fora”.

“A maioria da população de Baltar não quer esta fábrica”

Entre o público foram colocadas várias questões, a maioria relacionada com a localização do projeto e o impacto que terá no território.

Bruno Moreira, um dos populares que esteve presente, questionou o presidente da câmara sobre a escolha da zona industrial de Parada/Baltar. “A área geográfica de Baltar não está no centro do Vale do Sousa. Rebordosa tem uma zona industrial muito avançada, com acesso à autoestrada, porque é que não foi instalada lá?”.

Alexandre Almeida respondeu garantindo que a rede de gás natural ainda não chega àquela zona industrial nem ela reúne o espaço suficiente para a instalação da unidade. “Se houver alguma conclusão negativa do estudo de impacto ambiental o investimento não avança. Isso é uma certeza”, frisou.

 Fernando Sousa defendeu que este projeto já estava a ser cozinhado há bastante tempo e disse que “as pessoas em Baltar estão revoltadas porque a freguesia foi esquecida nas últimas décadas.” “Estou de acordo que este investimento seja feito, mas é preciso acompanhamento”, acrescentou.

Manuel Pinho, candidato do Movimento Juntos por Paredes à câmara municipal, também esteve presente na sessão e defendeu a necessidade destas unidades no futuro. “Não sei qual é a melhor localização para esta unidade. Sei que o Vale do Sousa tem de resolver este problema. Não podemos dizer que isto é um aterro e que estamos a prejudicar a terra porque dar uso a resíduos é o futuro”, frisou, considerando importante haver contrapartidas para a freguesia além dos postos de trabalho.

“Essa questão nunca se pôs, porque não há prejuízos para a comunidade, mas sim ganhos”, respondeu Alexandre Almeida.

Quase no final da sessão, uma habitante voltou a frisar que “a maioria da população de Baltar não quer esta fábrica” e apelou ao presidente da camara para desistir da ideia e instalar aquela unidade numa área mais distante da população.

O presidente da Junta de Baltar disse que o executivo da junta vai manter a sua posição, aguardando realização do estudo de impacto ambiental. Jorge Coelho defendeu ainda todos os habitantes da vila devem inscrever-se na junta de freguesia para fazer parte da comissão de acompanhamento. Foram prometidas visitas à Lipor e um acompanhamento mais próximo do projeto.