• Maio 2, 2025

Paredes celebrou 25 de Abril com apelo à defesa da democracia e dos valores de Abril

Paredes celebrou 25 de Abril com apelo à defesa da democracia e dos valores de Abril

Num ambiente de reflexão e emoção, a cidade de Lordelo assinalou o 51.º aniversário do 25 de Abril com uma cerimónia solene onde se destacou a defesa dos valores democráticos, a luta contra a desinformação e a importância da participação cívica. Autarcas e líderes políticos locais evocaram o legado da Revolução dos Cravos e os desafios que se colocam à democracia portuguesa.

Texto | António Orlando

Na Sessão Solene dos 51 anos do 25 de Abril de 1974, realizada na cidade de Lordelo, o Presidente da Câmara Municipal de Paredes, Alexandre Almeida, destacou a importância histórica do 25 de Abril como uma das datas mais marcantes dos 882 anos de história de Portugal. “Foi o ponto de viragem entre a ditadura e a democracia, a opressão e a liberdade, o isolamento e a abertura ao mundo”, sublinhou. O autarca lembrou as conquistas obtidas nas últimas décadas — como a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde e a descentralização —, mas também alertou para os perigos atuais das forças extremistas e da desinformação.

Almeida destacou igualmente os desafios contemporâneos que Portugal e o mundo enfrentam, como as alterações climáticas, os conflitos armados e o nacionalismo desagregador. No entanto, reforçou a confiança nas capacidades do concelho de Paredes, salientando o papel dos empresários, associações, escolas, paróquias e Juntas de Freguesia no desenvolvimento local. Terminou com uma mensagem de esperança: “Estamos no bom caminho.”

O Presidente da Assembleia Municipal, Baptista Pereira, apelou à responsabilidade cívica e destacou a urgência de uma nova revolução: “de carácter e atitude.” Num mundo em constante transformação, onde a tecnologia avança rapidamente e altera os sistemas sociais e económicos, Baptista Pereira alertou para os novos perigos que enfrentamos e para a necessidade de vigilância e participação ativa dos cidadãos. Para o autarca recordar o 25 de Abril é essencial, mas não suficiente: “é necessário continuar o caminho iniciado há 51 anos”. Recordou os fundamentos democráticos consagrados na Constituição e advertiu para a queda de Portugal no ranking internacional das democracias — do 8.º para o 26.º lugar — Baptista Pereira apelou à responsabilidade de cada cidadão na reconstrução e reforço da democracia portuguesa. “É preciso agir, formar cidadãos conscientes e comprometidos”, afirmou.

Cecília Mendes, do movimento Juntos por Paredes (JPP), evocou os valores de justiça e participação ativa, lembrando o percurso do seu movimento como voz independente e próxima dos cidadãos. Cecília Mendes recordou que o JPP surgiu sem apoios de máquinas partidárias, mas conquistou o seu lugar como terceira força política no concelho, enfrentando adversidades com coragem e convicção. “Não temos compromisso com o poder, mas com quem nos elegeu”, disse, apelando à renovação contínua da liberdade e homenageando o falecido Papa Francisco como exemplo de humanidade e fraternidade.

Pelo CDS, Jorge Ribeiro da Silva fez um longo discurso, relembrando os mortos do 25 de Abril junto à sede da PIDE . “Foram para a rua celebrar, abraçaram e foram abraçados, mas nunca chegaram a saber o que era a liberdade que tanto esperavam”. Prestou homenagem aos ex-combatentes do Ultramar, “uma geração decepada, que regressou viva por fora, mas tantas vezes morta por dentro”, disse.

Criticou a distância entre eleitos e eleitores, alertando para os riscos da abstenção e do populismo. A importância de uma “imprensa livre e corajosa, que não ceda à tentação de se tornar um instrumento de propaganda” foi também defendida pelo centrista administrador de um órgão de comunicação social.

Jorge Ribeiro da Silva defendeu também uma reforma séria das instituições e dos serviços públicos, como o SNS e a justiça.

Manuel Gomes, representante do PSD, destacou o simbolismo e a emoção da data, evocando a música de intervenção como espelho da esperança vivida pelo povo. Inspirando-se na célebre “Trova do Vento que Passa”, de Manuel Alegre e António Portugal, cantada por Adriano Correia de Oliveira, Manuel Gomes traçou um retrato de um país que, mesmo em tempos sombrios, resistiu e sonhou com a liberdade. “O retrato é um país cinzento, mas esperançoso; triste, mas sonhador”, afirmou.

Enalteceu o papel das mulheres na democracia e reiterou que o combate ao populismo, à corrupção e à desigualdade deve ser permanente. Citando o Papa Francisco, reforçou que “a responsabilidade de todos é tornar a democracia uma realidade para cada cidadão”. “Comemorar Abril é lutar pela liberdade todos os dias”, concluiu.

Rui Silva, líder parlamentar do Partido Socialista na Assembleia Municipal destacou os valores de Abril e alertou para “as ameaças à democracia” e apelou a um “renovado compromisso com a democracia, a justiça social e a sustentabilidade”. O responsável evocou a necessidade de combater o populismo, que classificou como “um fenómeno global alimentado pelo medo e pela insatisfação”, e defendeu a defesa ativa dos direitos humanos, da liberdade de expressão e do direito de voto.

A cerimónia de evocação da Revolução dos Cravos realizou-se numa tenda montada para o efeito na nova Praça Central de Lordelo (em frente à Junta de Freguesia de Lordelo), recentemente renovada pela Câmara Municipal. Há hora que decorria a sessão do 25 de abril realizava-se uma caminhada pela Liberdade promovida pelas juntas de freguesias (ambas do PSD) de Lordelo e Vilela.

Realce ainda para animação cultural da cerimónia, com a atuação da Orquestra Artischtas (composta maioritariamente por jovens músicos de Paredes) que interpretou um reportório de músicas de intervenção que celebram a liberdade e a identidade dos portugueses. “Gaivota”, de Amália Rodrigues, “Grândola Vila-Morena”, de Zeca Afonso, “Acordai”, de Fernando Lopes-Graça e “Liberdade”, de Sérgio Godinho, foram as músicas interpretadas com arranjos muito interessantes.

A Cerimónia Evocativa do “25 de Abril” iniciou com um minuto de silêncio em memória e honra do Papa Francisco falecido a 21 de abril.

 

 

                                                           VOZES COM ROSTO:

BAPTISTA PEREIRA, presidente da Assembleia Municipal de Paredes

“A nova revolução de que precisamos é uma revolução de responsabilidade, de compromisso e de formação cidadã. Respeitar o outro, defender a verdade e agir com transparência são os alicerces dessa transformação.”

ALEXANDRE ALMEIDA, Presidente da Câmara de Paredes

“Tenho consciência dos problemas e das necessidades que temos. Sei bem o muito que nos faz falta fazer. Mas a minha consciência e visão dizem-me que estamos no bom caminho.”

 

RUI SILVA, PS

O direito de voto, a liberdade de expressão, a popularidade política e a defesa dos direitos humanos, por vezes ainda tão pouco valorizados, tornaram-se pilares de uma nova sociedade mais justa e inclusiva. (…) O legado da revolução é o lembrete que a luta pela democracia é contínua e cada geração tem a responsabilidade de zelar por ela.

 

MANUEL GOMES, PSD

“Destaco o papel fundamental das mulheres portuguesas, vítimas silenciosas da ditadura e protagonistas da nova era de liberdade. Até à revolução dos cravos, viver em Portugal sendo mulher era muitas vezes viver em silêncio. Hoje, as mulheres são o que quiserem ser, quando desejarem e da forma que pretenderem.”

 

JORGE RIBEIRO DA SILVA, CDS-pp

“O fosso está a ser cavado, e a abstenção é a bala certeira no coração da democracia. Em 51 anos de Abril acertámos em muito, mas falhámos em outro tanto. E assim se continuamos passivamente a assobiar para o lado chegará o tempo em que o dia 25 de Abril deixa de existir e é neste momento que se impõe regressar a Paulo de Carvalho e perguntar: E Depois de Adeus?

 

CECÍLIA MENDES, movimento Juntos Por Paredes (JPP)

“Quando nos apresentámos pela primeira vez, não tínhamos estruturas nem favoritismos, apenas uma vontade firme: representar os paredenses com verdade e ação. Fizemos História. A política deve servir e não se servir.”