• Março 17, 2020

Helicóptero do INEM que caiu em Valongo voava “abaixo das altitudes mínimas”

Helicóptero do INEM que caiu em Valongo voava “abaixo das altitudes mínimas”
Foto: Relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários
Foto: Relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários

A investigação ao acidente com o helicóptero do INEM que caiu na Serra de Santa Justa, em Valongo, em dezembro de 2018, causando a morte aos quatro ocupantes, concluiu que a aeronave voava “abaixo das altitudes mínimas previstas na regulamentação”, tendo sido essa a “causa mais provável” da colisão da aeronave com a torre de radiodifusão.

O relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) divulgado a 10 de março.

No dia 15 de dezembro de 2018 um helicóptero Agusta A109S, ao serviço do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e operado pela empresa Babcock, regressava à base operacional de Macedo de Cavaleiros, depois de realizar um “transporte urgente” de uma doente para o Centro Hospitalar do Porto quando colidiu com uma torre de radiodifusão, localizada na Serra de Santa Justa, em Valongo.

Após o transporte, o comandante da aeronave, decide aguardar por melhores condições meteorológicas e, com a equipa, abandonam o heliporto para uma pausa num estabelecimento comercial próximo. Às 18:35 descolam em direção ao heliporto de Paredes-Baltar (no concelho de Paredes) para reabastecer.

“Recorrendo ao histórico de dados de voo na atual operação HEMS [Helicópteros de Serviço de Emergência Médica], nomeadamente quanto às aeronaves operadas, rotas utilizadas, condições de operação e equipamentos disponíveis nos heliportos de origem e destino, e se conjugarmos os voos realizados com as condições atmosféricas da região Norte do país, os dados sugerem que nem sempre são respeitados os mínimos meteorológicos, como foi o caso do voo do acidente”, explica o GPIAAF.

A investigação realizada determinou que o helicóptero voava consideravelmente abaixo da altitude exigida, a fim de permitir ao piloto manter contacto visual com o terreno.

Apontadas falhas ao regulador

GPIAAF aponta outros fatores que contribuíram para o acidente em Valongo, nomeadamente “a operação em heliportos sem rádio ajudas, forçando a manutenção de condições visuais com o terreno por parte da tripulação, com condições de visibilidade marginal potenciadas pela orografia, condições de luminosidade artificial no terreno e as condições atmosféricas locais”.

“Da investigação realizada, fica claro que as ações da tripulação, tiveram subjacentes condições latentes e causas profundas relacionadas com a organização e operação do serviço de helicópteros de emergência médica”, salienta o GPIAAF.

O organismo apontou ainda falhas ao regulador do setor, na supervisão, e ao INEM e à Babcock pelo incumprimento contratual entre este organismo público e a empresa que opera os helicópteros de emergência médica.

O contrato entre o INEM e a Babcock determinava a instalação de um sistema de seguimento da aeronave que permitisse o acompanhamento e execução das missões em tempo real, que não chegou ser instalado, e que a empresa devia garantir o acesso às informações e dados da operação, dos riscos e das ações de mitigação sobre o serviço contratado.

Enfermeira de Baltar entre as vítimas

Daniela Silva, 34 anos, enfermeira natural de Baltar, Paredes, foi uma das vítimas mortais deste acidente. A jovem fez parte da corporação de Bombeiros de Baltar durante vários anos e era também formadora na Escola Nacional de Bombeiros.

Fez parte da ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIVA) em Moura, na região do Alentejo, tendo depois trabalhado durante cerca de 11 anos no Hospital de Amarante também no SIV. Estava há cinco anos no INEM do Porto, onde fazia meio aéreo e SIV.

Os restantes ocupantes da aeronave eram o piloto comandante João Lima, o copiloto Luís Rosindo e o médico Luís Vega, de nacionalidade espanhola.