• Julho 25, 2024

Hélder Carneiro explica regresso do andebol a Rebordosa

Hélder Carneiro explica regresso do andebol a Rebordosa

“Rebordosa precisava de uma alternativa ao futebol”

O presidente e fundador do Rebordosa Andebol Clube (RAC) devolveu a modalidade à cidade como solução para os filhos e alternativa ao futebol, logrando juntar 170 atletas em menos de um fósforo e projetando maiores sucessos no feminino.

Os filhos jogavam andebol no concelho, mas as coisas estavam longe de correr bem, e, em conversa com um treinador que auxiliara e de quem ficara próximo, surgiu o desafio, que virou dilema: ou levava os miúdos para clubes na Maia, Porto ou Vila Nova de Gaia, ou criava um clube para eles. O bairrismo pesou na decisão de Hélder Carneiro e, 20 anos depois, Rebordosa voltou a ter andebol.

“Fazia-me alguma confusão ver que em Rebordosa, cidade de quem tenho orgulho e vaidade e que é uma das principais freguesias do concelho, se não mesmo a principal, não havia alternativa ao futebol. Então, no feminino, era um descalabro”, contou Hélder Carneiro, de 49 anos, ao jornal O PAREDENSE.

O presidente e fundador do RAC fez frente aos que lhe pediam para arrancar com uma equipa sénior (masculina), por defender que “uma casa começa pelos alicerces”. “O meu objetivo é fazer do Rebordosa uma equipa da 1.ª Divisão, mas o clube tem de ser sustentado pela prata da casa, em 60, 70 ou 80 por cento”, defendeu.

O RAC começou do zero. “O clube não tinha dinheiro, não tinha treinador, não tinha atletas. Reuni com a Associação de Andebol do Porto, filiei o clube, fui contratar treinadores, pagando tudo do meu bolso, e começámos a fazer captações nas escolas. O clube começou a crescer, só que isto foi uma ‘explosão’”, sublinhou, “orgulhoso”por a realidade ter suplantado as melhores previsões.

Hélder Carneiro previa atingir o número de 150 atletas em oito ou 10 anos, mas conseguiu-o a caminho dos seis, e, já na próxima época, com a formação do clube, vai arrancar com seniores masculinos.

Meninas ao nível das melhores…

A equipa sénior feminina surgirá depois, e é nas meninas que as expetativas estão mais altas. “Temos equipas muito competitivas, mas, no feminino, já estamos ao nível dos melhores”, assegurou. O sexto lugar nacional das sub-16, entre 12 equipas, é revelador. “Na nossa associação, que é a maior do país e uma das mais fortes, em alguns escalões, já perdemos por um e/ou já ganhamos por um”, exemplificou.

Hélder Carneiro explica esta intromissão da equipa na elite (feminina) com “a seriedade no trabalho”, acreditando que, “a partir de agora, o clube vá ter presenças assíduas e constantes em fases finais dos campeonatos”.

… e com mira à 1.ª Divisão

O presidente não esconde a ambição de ver a equipa masculina subir no primeiro ano ao terceiro escalão e poder fixar-se, depois, no segundo nível, o limite da capacidade do RAC, mas sobe patamares relativamente à futura equipa feminina. “Nos seniores femininos, projetamos subir todos os anos, até chegarmos à 1.ª Divisão, tendo aí uma equipa competitiva”, adiantou. Hélder Carneiro deu conta de negociações avançadas com clubes angolanos, país para onde viaja regularmente em trabalho, para, no momento certo, juntar à ‘prata da casa’ a experiência de algumas internacionais.

 

Respeitar o concelho, honrar Rebordosa

O RAC representa a cidade e o concelho, e, para melhor honrar o nome que carrega, tem de ser um exemplo. Dentro e fora de campo. “Temos um regulamento interno e ninguém fica de fora. Nem mesmo os dirigentes. Eu tenho regras, os treinadores têm regras, os atletas e os pais também têm regras a cumprir. Multas por desrespeito aos árbitros ou por desacatos, o clube não paga. São os pais que pagam ou o atleta é convidado a sair”, explicou o presidente.

Hélder Carneiro diz que a questão é pacífica. “Fazemos uma apresentação inicial no auditório da CELER, identificando objetivos e equipas, e revelando treinadores. Passa tudo num ecrã gigante e todos têm conhecimento do que vai ser a época e quais as regras”, concluiu.

Captações nas escolas

O número crescente de atletas resulta da capacidade que o clube revelou de ir às escolas fazer captações. “Fizemos protocolos com as escolas, como o Agrupamento Escolar de Vilela, de que Rebordosa faz parte, e, no próximo ano, vamos entrar em Lordelo. E o que acontece é que os nossos treinadores vão às aulas de Educação Física e, quando o tema é andebol, eles próprios ajudam na aula”, explicou. Uns arrastam os outros e o passa-palavra também ajuda, sobretudo no feminino, sem a concorrência do futebol. “Temos 55 a 60 por cento de meninas e cerca de 40 no masculino, mas não abdicamos deste trabalho de prospeção. Além disso, aos sábados de manhã, já conseguimos juntar em pavilhão 30 a 40 crianças, dos seis aos oito anos”, precisou.

 

Época custa 50 mil euros

Os custos de participação do RAC nos diferentes campeonatos situaram-se última época nos 50 mil euros. Hélder Carneiro, que chamou a si todas as despesas no arranque do projeto, implementou um método de trabalho que o próprio diz permitir ao clube “trabalhar hoje de uma forma quase automatizada”. Da autarquia recebe o equivalente ao que é dado a todos os clubes, ao nível de inscrições e seguros, e uma vez por outra a cedência de um autocarro. “É uma ajuda que muito agradecemos”, disse, revelando que as quotas pagas pelos atletas, ainda que inferiores ao praticado noutros clubes, “ajudam a completar uma boa parte do orçamento”. “O remanescente resulta dos patrocinadores e do apoio da junta de freguesia e da CELER”, concluiu.

Com a casa às costas

O presidente e fundador do RAC aceita as dores de crescimento, mas lamenta ter que andar sempre com a casa às costas, com os problemas de logística e os elevados custos associados que resultam daí, sendo o pior de tudo não poder jogar em Rebordosa. Hélder Carneiro não esquece as promessas e aponta o dedo à autarquia.

“A Câmara tem tentado ajudar, mas não faz o suficiente, não cumprindo o que se comprometeu a fazer, numa promessa em público, perante muita gente, de dotar Rebordosa de um pavilhão próprio ainda este mandato, o que não vai acontecer”, queixou-se. Na mira do dirigente estão os “custos elevadíssimos” resultantes dos alugueres de vários pavilhões. “Treinamos diariamente em quatro ou cinco pavilhões, agora imagine a logística disto tudo”, referiu, “chocado” por ser de Rebordosa, o clube ter Rebordosa no nome e nos equipamentos, e terem de treinar em Astromil, Vandoma ou Vilela e jogar em Lordelo, no Rota dos Móveis.

“Somos pacientes e estamos focados na solução. Vamos tentar negociar um protocolo diferente com a Associação para o Desenvolvimento de Rebordosa, cujo pavilhão não está a ser usado no desporto federado, para ver se há a possibilidade de começarmos a concentrar lá o máximo número de treinos e jogos”, exemplificou.

Ter ‘casa própria’ também facilitaria a instalação de um ginásio, para a realização de trabalho de força, necessário a partir de uma determinada idade.

 

Hoje jogo eu

O PAREDENSE ouviu alguns dos jovens atletas do clube, de diferentes idades, procurando conhecer as suas motivações e o que ambicionam na modalidade. O espírito de grupo, equivalente a uma família (mais numerosa), juntou quase todos.

LEONOR BARBOSA

13 anos

“Comecei no desporto escolar em Rebordosa, depois, vim experimentar e gostei. Já lá vão seis anos e não me vejo hoje sem o andebol. Gostava de um dia ir para a Dinamarca, país onde a modalidade tem tradição”.

LEONOR ROCHA

14 anos

“Via os amigos jogar e fiquei interessada, mas, assim que experimentei, gostei logo. Gostava de um dia representar a seleção e jogar no estrangeiro. O clube tem um ambiente fantástico e, para mim, não há melhor”.

CAROLINA NUNES

12 anos

“Estou aqui há, mais ou menos, seis anos, tendo ficado convencida após o primeiro treino. Gostar de desporto e um clube muito unido também ajudaram. Espero voltar à seleção regional e, se possível, alargar à equipa nacional”.

RAQUEL PIRES

12 anos

“Jogo andebol há sete anos, tendo começado na Maia. Via o meu irmão jogar e também queria. Treinei e gostei logo. Espero chegar à seleção. Aqui, em Rebordosa, há mais convivência, as pessoas são como família”.

 

MATILDE CAMPOS

14 anos

“No meu 5.º ano, foram entregar panfletos à escola, vim com as minhas amigas e ficámos todas. Jogava só na escola. Os treinadores são simpáticos e há um bom espírito, mas também quero ganhar jogos e torneios”.

LEONARDO VITAL

17 anos

“Só tinha jogado na escola, mas os amigos convenceram-me. Era guarda-redes de polo aquático e, há um ano, sou guarda-redes de andebol. Fui bem acolhido neste clube muito unido e espero crescer como pessoa e atleta”.

RENATO SANTOS

14 anos

“Queria fazer desporto e ajudou na escolha o facto de alguns amigos já jogarem. Só tinha experimentado na escola, mas já cá ando há três anos. O clube é muito unido e espero crescer como atleta, na posição de lateral”.

JOÃO MACHADO

14 anos

“A minha mãe já tinha jogado andebol em Rebordosa e, quando vim experimentar, gostei logo. Já passaram cerca de três anos. Antes era ponta, mas reconheceram em mim qualidades para guarda-redes. O convívio é a melhor parte”.

SIMON Barbosa

17 anos

“Gosto de futebol, mas tive curiosidade de saber mais e vim treinar. Gostei e por cá ando há cerca de três anos. Gostava de jogar como profissional. O convívio aqui é fantástico, não há muitos clubes assim”.

 

Coordenador do andebol do Rebordosa define projeto:

“Tela branca para pintar à nossa maneira”

Tinha deixado o FC Porto e estava sem treinar quando foi convidado a dar uma mão ao andebol da sua terra e, poucos meses volvidos, teve luz verde da direção para coordenar um projeto que promete ser referência.

O clube vive ainda na ressaca do sexto lugar, entre 12 equipas, alcançado pelas sub-16 na final do Campeonato Nacional, correspondendo a uma das primeiras gerações no Rebordosa Andebol Clube (RAC). “Temos agora mais cinco ou seis gerações, com 13, 14 atletas que vêm a caminho com um trabalho também bem realizado. Estamos certos de que, se não descurarmos a qualidade do trabalho, a médio prazo elas vão começar a subir e a melhorar, a melhorar, a melhorar”, disse João Azevedo, em declarações ao jornal O PAREDENSE.

E o melhor ainda está para vir, em especial no setor feminino. “Já nos aproximamos das melhores equipas nacionais, mas acredito que, em breve, no espaço de dois ou três anos, vamos ser uma das melhores equipas nacionais. Este ano, pela primeira vez na curta história do clube, fomos à fase final, mas isso vai começar a tornar-se regra”, defendeu o coordenador do andebol do Rebordosa. Reconheceu “mais dificuldades” no masculino, tendo em conta que “o futebol continua a sugar muita gente”.

Luz verde para seguir e crescer

João Azevedo, de 39 anos, tinha a experiência do seu lado e do lado de lá estava o clube da sua terra e o irmão, acabando vencido pelos argumentos sobre o muito que poderia emprestar a um clube em início de vida.

Entrou como técnico (da equipa de sub-16), mas, pouco tempo depois, recebeu convites de outros emblemas para coisas maiores e comunicou a situação.

“O presidente abriu portas e colocou as coisas ao contrário, questionando-me sobre aquilo que gostaria de fazer no clube. Apresentei-lhe a minha proposta, disse que gostava de coordenar o clube, e aceitaram as minhas condições, dando luz verde para tudo”, contou João Azevedo.

“Muito bem recebido” no Rebordosa desde o início, o jovem técnico diz que “o trabalho articulado com a direção começou a fluir e o projeto continua a crescer”.

Jogar à Rebordosa virou realidade

“Nós temos claramente uma ideia de como queremos que o Rebordosa jogue e a vantagem foi termos conseguido aplicar o nosso modelo de jogo e a nossa forma de estar, sendo isso transversal a todos os escalões”, sublinhou. A ideia que João Azevedo passa aos treinadores é replicada, depois, em situações de treino pelos jogadores.

“O que nós queremos é uma equipa do Rebordosa que seja conhecida por ser muito chata e agressiva a defender, que joga muito rápido, num andebol moderno, com jogadores muito competentes, na fase defensiva e ofensiva, e, acima de tudo, jogadores disponíveis para lutar, para competir”, esclareceu.

João Azevedo diz que esta imagem de marca do clube já é uma realidade, independentemente do escalão.

“Este trabalho é uma tela branca em que temos total liberdade de a pintar à nossa maneira”, definiu, estabelecendo aos dias de hoje “um balanço claramente positivo”.

Formação de excelência é prioridade

“Temos esta geração e outras, que têm vindo a ser também muito bem trabalhadas, e, já na próxima época, iremos avançar com os seniores masculinos, seguindo-se, no ano seguinte, a equipa sénior feminina”, revelou.

O experimentado técnico advertiu que “uma boa formação nunca pode estar dependente dois resultados”, tendo em conta que “uma má jogadora ou um mau atleta aos 12 anos pode ser um atleta excecional aos 17 ou 18”.

“Queremos ganhar, e isso não está em causa, mas temos que dar formação de excelência aos nossos atletas, para um dia mais tarde eles virem a integrar a nossa equipa sénior. Se, pelo caminho, conseguimos juntar a isso resultados de excelência, será ouro sobre azul”, concluiu.