- Junho 2, 2024
BV Paredes celebraram 140 anos
BV Paredes celebraram 140 anos
Tutela com as orelhas a arder na festa dos Bombeiros
A cerimónia dos 140 anos dos BV Paredes ficou marcada pelas críticas do comandante José Morais à tutela, ao afirmar que o Estado se demitiu da proteção dos cidadãos, valendo às corporações o poder local e os beneméritos.
“Quanto melhores forem os equipamentos, quanto melhor for a formação dos nossos elementos, melhor poderemos servir. Esta é uma luta constante para servir o bem comum e a proteção dos cidadãos, da vida, dos bens e do ambiente, tarefas que pertencem prioritariamente ao Estado, mas que o Estado delega, sem as devidas contrapartidas”, disse José Morais, no início de uma intervenção cheia de farpas à tutela.
José Morais deu como exemplo a “moderna e bem equipada central de comunicações”, inaugurada instantes antes, e “um novo veículo operacional”,
batizado pelo ‘padrinho’ Domingos Barros, para lamentar que “fora do poder local, fora a câmara municipal, não exista por parte da tutela um plano plurianual de investimentos para os corpos de bombeiros”.
“Lembram-se de nós quando a coisa aquece, mas já estamos habituados a isso. Há que assumir que a sub-regionalização do setor da proteção civil foi um erro e que não trouxe nenhuma mais valia técnica ou operacional. Há que lutar pelo Comando Nacional de Bombeiros, mas não como a Liga o tem feito, fazendo crer que o que existe é algo que efetivamente não existe”, sublinhou.
“Equívoco lamentável”
José Morais aproveitou para lembrar a Liga de Bombeiros que “ninguém auscultou os comandantes para que possam afirmar que (os comandantes) admitem não integrar escalas da proteção civil” ou, ainda, “parar no arranque da época crítica”.
“Não admito rigorosamente nada disso”, precisou, confirmando ter ficado “ofendido e indignado” com as palavras do presidente da Autoridade Nacional de Emergência e da Proteção Civil (ANEPC), quando disse que “os bombeiros não estão preparados para construir um comando de bombeiros”. O comandante da corporação paredense falou mesmo em “equívoco lamentável”, tendo em conta que “cerca de 90 por cento da estrutura operacional da ANEPC é oriunda dos bombeiros”.
Profissionalização da primeira intervenção
Na ausência do autor da declaração incendiária, Duarte da Costa, que se fez representar, à semelhança do que fez o presidente da Liga dos Bombeiros, ou da própria ministra da Administração Interna, que também não respondeu ao convite, José Morais seguiu viagem direto aos temas de interesse das corporações.
“Interessa-nos o novo modelo de financiamento das associações, que passe pela celebração de contratos-programa, e a profissionalização da primeira intervenção, com uma plena definição de carreiras para os elementos e da estrutura”, anunciou.
José Morais está, ainda, convicto, da necessidade de “reforçar com pelo menos mais uma equipa de intervenção permanente, alargando o horário de funcionamento de oito para 16 horas diárias”. Defendeu, por outro lado, a promoção do voluntariado entre os mais jovens, elencando a Escola de Infantes e Cadetes dos bombeiros de Paredes como exemplo.
“Durante 15 anos, oriundos da escola, integraram o corpo ativo 53 elementos, dos quais 36 se mantêm em atividade e oito transitaram para corpos de bombeiros profissionais, INEM, forças de segurança, forças armadas, o que equivale a 83 por cento de aproveitamento”, precisou.
Voltar é o ‘contrato’ para ir
Durante a sessão, a corporação paredense foi agraciada com a medalha de gratidão Covid-19, pelo representante da Liga dos Bombeiros Portugueses, que falou de “uma lei de financiamento ridícula” por parte da tutela. Luís Elias também pediu a revisão do estatuto social do bombeiro e dos dirigentes associativos, alertou para a problemática dos seguros e falou de “vergonha” ao referir-se à polémica declaração sobre o comando operacional. Alexandre Almeida encerrou as intervenções e reiterou o compromisso de continuar a apoiar as corporações do concelho. O autarca paredense insistiu na política de definição de serviços e equipamentos, tendo presente a ideia de que “os bombeiros têm que ir, mas têm também que voltar”.
Bombeiros reconhecidos a quem os ajuda
Domingos Barros e Alexandre Almeida distinguidos
Presidente da direção dos Bombeiros de Paredes justificou entrega de diplomas a autarca paredense e a cidadão benemérito como reconhecimento público dos relevantes serviços prestados à associação.
Carlos Silva começou por recorrer à história e enaltecer o conjunto de 18 ilustres paredenses que no dia 01 de junho de 1884 decidiu criar a Associação Humanitária, tendo como principal missão, na altura, extinguir incêndios. Honrar o passado, servir o presente e preparar o futuro tem norteado, em sua opinião, as diferentes direções, empenhadas em dotar as instalações e o corpo ativo das melhores condições. O presidente da direção deu o exemplo das obras de modernização realizadas no quartel e dos melhoramentos no parque automóvel, reconhecendo a sensibilidade e apoio das entidades locais e da sociedade civil. Foi, nesse sentido, que os bombeiros decidiram presentear o cidadão Alexandre Almeida com o diploma de Sócio Honorário e Gratidão Grau Ouro, pelos relevantes serviços prestados à corporação, bem como distinguir o cidadão Domingos Barros, padrinho da nova viatura apresentada, com o diploma de Sócio Benemérito e Gratidão Grau Ouro.
Aos presentes, Domingos Barros disse ser “obrigação ajudar um bocadinho uma das mais importantes coletividades” do concelho, admitindo ter sido apanhado de surpresa com a distinção. “Podem sempre contar connosco. Já falei com a minha filha e podem mesmo contar com o dobro do apoio que temos dado”, disse o empresário e antigo autarca de Vandoma, visivelmente emocionado.
140 anos festejados ao longo do ano
Ainda falta a Grande Gala
O programa de comemorações dos 140 anos dos BV Paredes iniciou-se em abril, com o “Dia de Apreço” à comunidade e só vai encerrar em outubro, com a realização da Grande Gala, no Centro Cultural da cidade.
Para além da iniciativa que juntou comunidade e bombeiros, a corporação reservou maio para as cerimónias religiosas, materializadas na missa na igreja matriz e na romagem ao cemitério. “As obras de requalificação das campas pertencentes à associação e o memorial lá existente deram a dignidade que todos desejávamos a este local”, explicou o comandante José Morais, antes de destacar Álvaro Neves, engenheiro que acompanhou a obra e, entretanto, agraciado com o diploma de Agradecimento e Gratidão.
José Morais aproveitou a presença na sessão solene dos autarcas das freguesias para os desafiar a retomar, no próximo ano e seguintes, a comemoração do aniversário da corporação nas freguesias da respetiva área de intervenção.
“Queremos estar cada vez mais próximos, agradecendo o contributo que normalmente prestam à nossa associação, através dos peditórios”, argumentou, reservando para o mês de outubro o último andamento das comemorações, com a realização da Grande Gala.
“Sabemos, sobretudo, que podemos sempre contar com as forças vivas da nossa terra, com a câmara municipal e, em particular, com o senhor presidente (…) e o senhor Domingos Barros, que muito nos orgulhou com a sua presença e o facto de ter apadrinhado a nossa viatura. Mais uma vez o poder local dá o exemplo ao estado da forma de saber estar e de se fazer presente nos momentos importantes”, concluiu.