- Outubro 20, 2025
Alarme silencioso da osteoporose em Portugal- 194 fraturas por dia
Mais de 600 mil portugueses vivem com osteoporose, uma doença subdiagnosticada e subtratada que provoca quase duas centenas de fraturas diárias. Especialistas alertam para um problema de saúde pública que exige maior atenção e prevenção.
Em Portugal, a osteoporose é uma ameaça silenciosa que se manifesta, em média, 194 vezes por dia – tantas quanto o número de fraturas resultantes desta doença. Estima-se que mais de 600 mil portugueses sofram de osteoporose, sobretudo a partir dos 50 anos, mas grande parte sem diagnóstico ou tratamento adequados.
De acordo com Filipe Cabral, médico de família e membro do Grupo de Estudos de Doenças Cardiovasculares da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, “a osteoporose representa um problema de saúde pública de grande relevância”. O especialista sublinha que a previsão aponta para um aumento de 28,9% no número de fraturas até 2034, ultrapassando os 91 mil casos anuais.
Apesar da gravidade, os dados revelam um cenário preocupante: o diagnóstico atinge apenas 3,4% da população, e apenas um quarto das mulheres elegíveis recebe o tratamento recomendado. Nos doentes com fraturas prévias, só 21,6% iniciaram terapêutica, apesar da indicação clínica. Entre 2010 e 2019, o treatment gap — diferença entre quem devia e quem realmente é tratado — cresceu de 37% para 75%.
Este subtratamento traduz-se em consequências sérias. A mortalidade no primeiro ano após uma fratura da anca chega aos 30%, e metade dos doentes perde autonomia. Em 2019, os custos diretos e indiretos da doença ascenderam a mil milhões de euros, 5,6% da despesa nacional em saúde — com menos de 1,5% investido em prevenção.
Para Luís de Almeida Pina, médico de família na USF Venda Nova, “a terapêutica com bifosfonatos continua a ser a que apresenta melhor custo-benefício”. As tomas mensais, segundo o clínico, “são eficazes, bem toleradas e favorecem a adesão ao tratamento”.
O papel essencial do médico de família
A prevenção e a deteção precoce são pilares fundamentais no combate à osteoporose. Filipe Cabral destaca que cabe ao médico de família “promover a literacia em saúde, incentivar o exercício físico, a cessação tabágica e a redução do consumo de álcool, além de garantir o diagnóstico atempado”.
Luís de Almeida Pina reforça a necessidade de desmistificar ideias erradas: “Não é com cálcio isolado que tratamos a osteoporose. É essencial combater a inércia diagnóstica e terapêutica e definir planos de tratamento claros e objetivos.”
A utilização do FRAX, ferramenta gratuita que calcula o risco de fraturas em pessoas a partir dos 50 anos, é uma das estratégias defendidas. “É um gesto simples e prático, que pode evitar fraturas, internamentos prolongados e perda de qualidade de vida”, acrescenta Pina.
A mensagem dos especialistas é clara: a osteoporose é uma doença silenciosa, mas com sinais audíveis nas estatísticas. A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem ser a diferença entre a autonomia e a fragilidade.